sexta-feira, 20 de junho de 2014

Samuel Pimenta, escritor português, já participou do Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus

Antigo aluno premiado no concurso Jovens Criadores 2012
Samuel Pimenta, antigo aluno de Ciências da Comunicação, foi um dos oito premiados no concurso Jovens Criadores 2012 na vertente de Literatura, com o poema “O Relógio”.

Leia a entrevista dada por Samuel Pimenta. Em anteriores edições, este prémio agraciou nomes como José Luís Peixoto, João Tordo, Valter Hugo Mãe e Ondjaki, entre outros.

- Como se iniciou no processo da escrita?
Despertei para a escrita aos 10 anos, influenciado pelos clássicos infantis da Walt Disney, pelos contos tradicionais e, especialmente, pelos contos de Sophia de Mello Breyner, nomeadamente A Fada Oriana, que tive a oportunidade de ver encenada no 3.º ou 4.º ano. Como cresci no campo, sempre fui muito ligado à Natureza e, por isso, muito fantasioso. Ainda hoje vejo magia em tudo! Quando percebi que poderia dar vida à imaginação através das palavras, aventurei-me a escrever o meu primeiro conto, A Casa Assombrada. Agora que penso nisso, considero que foi um processo natural, que só poderia expressar-me em pleno escrevendo, dadas as minhas vivências, o meu ser. Desde tenra idade que sinto que tenho algo a dizer, algo a acrescentar ao que já foi dito.

- A sua primeira obra publicada foi a trilogia “Heros, o Escolhido”, como é que se passa de uma obra de fantasia para o registo poético?
Sempre escrevi nos três géneros literários e não consigo nomear nenhum deles como o género eleito. Em determinados momentos da minha vida, sinto-me mais motivado a escrever no género lírico, noutros, a escrever no narrativo ou dramático. Também já cheguei a estar com projectos dos diferentes géneros em simultâneo.

Penso que o livro O Escolhido, o único da trilogia editado, tinha mesmo de ser escrito, eu tinha de dar vida e corpo aos mundos e aos seres que viviam dentro de mim. Comecei a idealizá-lo aos 15 anos e terminei-o com 17. Na altura, fazia sentido expressar-me através de uma obra de fantasia, embora sempre fosse escrevendo os meus poemas e contos em paralelo. Entretanto, e principalmente após ter entrado na FCSH, os meus horizontes abriram-se e percebi que limitar-me à escrita de fantasia era, para mim, redutor. Aliás, nunca foi minha intenção ser um escritor unicamente de fantasia. Só consigo escrever um livro se, naquele momento, ele fizer sentido para mim. Quando deixa de fazer sentido, continuar a escrevê-lo é como se estivesse a ser infiel à minha verdade interior. Por isso, em 2011, decidi interromper por tempo indeterminado o 3.º e último volume da trilogia e abraçar outros projectos que, de momento, fazem mais sentido para mim.

- Fale-nos, de forma breve, da sua participação no concurso Jovens Criadores 2012 na vertente de Literatura.
Em Agosto, vi a informação do concurso na Internet e decidi arriscar. As candidaturas terminavam na primeira quinzena de Setembro. Mesmo com pouco tempo, este era um daqueles concursos em que tinha mesmo de participar. Saber que, em anos anteriores, fora ganho por José Luís Peixoto, João Tordo, Valter Hugo Mãe ou Ondjaki motivou-me bastante. Optei por concorrer com um poema que se insere na linha da poesia de intervenção, “O relógio”. Ao longo das 13 páginas do texto, o Eu Lírico denuncia e repudia os vícios da sociedade contemporânea, assim como o controlo a que está sujeita. Numa linguagem multidimensional, o Eu metaforiza a realidade com a figura do relógio e com o som que ele emite, o tiquetaque sempre igual.

- Costuma participar neste tipo de concursos? É o primeiro prémio que ganha?
Já há algum tempo que me mantenho atento aos concursos literários nacionais e internacionais. Tive oportunidade de concorrer a alguns em anos anteriores. No entanto, este foi o primeiro ano em que concorri ao Prémio Jovens Criadores. Quanto a outros prémios, em 2010 tive um poema premiado no VI Prémio Literário Valdeck Almeida de Jesus, no Brasil.

- De que forma a frequência do curso de Licenciatura em Ciências da Comunicação na FCSH/NOVA o ajudou no desenvolvimento da escrita?
Posso dizer que o facto de ter ingressado em Ciências da Comunicação, em 2008, foi como que um despertar para um novo mundo. Tive a oportunidade de estudar com colegas muito diferentes entre si e extremamente interessantes, alguns deles ungidos por uma certa genialidade. Além disso, pude contactar com professores que me abriram horizontes e que me fizeram pensar em questões sobre as quais nunca tinha reflectido. Se antes de entrar no curso era já um pensador por defeito, após ter concluído a Licenciatura passei a olhar a realidade de outra forma: aprendi a desconstruir tudo o que vejo, a levantar questões sobre tudo o que nos é dado como garantido. Como frequentei disciplinas da área de Jornalismo, também pude melhorar a minha técnica de escrita. Contudo, sempre que me perguntam qual o maior legado que me foi deixado pelo curso, a resposta surge naturalmente: aprendi a pensar melhor do que pensava. É curioso que, no primeiro dia de aulas, em 2008, nos disseram que essa seria a maior aprendizagem que levaríamos da Faculdade.

- Quer falar sobre a sua passagem na Faculdade? Quais as suas impressões?
Identifico-me tanto com a FCSH que penso que não poderia ter estudado noutra Faculdade. A diversidade de pessoas, a receptividade, a mente sem preconceitos, o espírito inovador, as ideias que parecem brotar das árvores que envolvem a esplanada… Em poucos lugares é possível estudar com colegas de Música, de Arte, de Política, de Comunicação, de Literatura, de História, de Geografia, de Filosofia,… Lembro-me de passar na esplanada e dos poemas nas mesas, dos músicos a tocar guitarra, saxofone, violino. Lembro-me das conversas com os meus colegas, da curta-metragem que um estava a realizar, do festival cultural que outro estava a promover, do site de informação online que outros queriam criar… Toda esta dinâmica acaba por ser muito estimulante a nível criativo. A FCSH é uma Faculdade com uma identidade própria e à qual me orgulho de ter pertencido. Das experiências que já tive no mercado de trabalho, é-lhe reconhecido o imenso valor que tem, especialmente pela qualidade dos profissionais que a integram e pelos alunos que nela se formam. E isso é, indiscutivelmente, um legado de imenso valor para se carregar.

- Que futuras publicações se avizinham?
Não tenho nenhuma publicação para breve. Embora tenha obras escritas, em Junho deste ano rescindi contrato com a Planeta Editora. De momento, estou sem editora. Confesso que não tenho pressa. Estou a trabalhar em alguns projectos e preciso de me concentrar. Ainda assim, faço publicações regulares no meu blogue pessoal - http://samuelpimentablog.blogspot.com – e organizo tertúlias literárias quinzenalmente, no Zazou Bazar & Café, que junta poetas, escritores e todos os que apreciam as palavras. Neste momento, estou mais centrado em escrever e em contactar com quem escreve. Em breve, dedico-me a procurar editora.

- Que sonhos gostava de concretizar enquanto escritor?
A curto prazo, quero encontrar uma editora confiável e que faça um trabalho sério e rigoroso. A médio/longo prazo, quero poder viver única e exclusivamente dos meus livros, apostando na internacionalização. Sei que tenho muito para aprender, muitos provas para superar. Ainda assim, acredito que é possível. Estou habituado a desafios.

- Quer deixar alguma mensagem aos alunos da Faculdade?
Antes de mais, quero agradecer a todos os “colegas” que tiveram a amabilidade em ler esta entrevista. Deixei a FCSH em 2011, quando terminei a Licenciatura, mas sinto que continuo a fazer parte da comunidade académica NOVA. Espero que, de alguma forma, esta entrevista vos faça acreditar que a entrega genuína ao que nos realiza enquanto humanos acaba sempre por ser reconhecida e premiada. Aproveitem o legado que a FCSH tem para vos dar, uma visão plural, livre e actual do mundo. Acredito que, se se formarem mais humanos que saibam pensar bem, será possível construirmos uma realidade que assente sobre os valores que premeiam o mérito, o talento e a vida. Deixo a toda a FCSH/NOVA um enorme bem-haja!
 
Veja os resultados do concurso: aqui
 
Nota: O poema "O Relógio" só poderá ser divulgado após a entrega do prémio.


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